Platão
>> Roteiro de estudo de filosofia: ant.: Ironia, próx.: Aristóteles. > V. tópico sobre ^ em Lobo, R. H.. Os filósofos e a arte.
etapa | mundo a que pertence [9] | modo de conhecimento (estados mentais) | objetos conhecidos |
a | mundo material (objetos concretos) | conjuntura (eikasia) | visão das imagens, sombras, aparências, pelo homem comum |
b | mundo material (objetos concretos) | crença (pistis) | viventes e objetos fabricados (cópias), conhecimento dos objetos naturais |
c | mundo inteligível (formas) | pensamento (entendimento [8]) (dianoia) | noções, números, conhecimento dos objetos matemáticos pelo geômetra |
d | mundo inteligível (formas) | intelecto (conhecimento ou razão [8]) (noesis) | conhecimento das formas inteligíveis pelo dialético |
Metafísica. Tema condutor: teoria das idéias. Teoria do conhecimento. Solução para problema do ser. Os sentidos nos revelam as coisas como múltiplas e mutáveis, ao passo que a inteligência nos revela sua unidade e permanência. A essência real e eterna das coisas existe num mundo de essências imutáveis e perfeitas, as idéias arquetípicas (formas). Estas constituiriam a realidade inteligível — objeto de conhecimento científico ou epistemológico —, cujas leis o mundo sensível — objeto de opinião — reproduziria de forma imperfeita. O homem, por ter corpo e alma, pertenceria simultaneamente a esses dois mundos.
O mundo particular que percebemos é mera aparência, a realidade última acha-se no mundo das ideias, que se assemelham a formas ou ideais. Os objetos particulares do mundo percebido só se tornam reais através da participação nesse mundo definitivo das ideias (ou da sua imitação). Quando vejo um gato preto, ele é fato apenas porque participa da ideia (ou forma) definitiva de gato; é preto só na medida em que participa da ideia (ou ideal) de pretume [4]. V. Universais. O mundo das formas ou ideias é imutável e eterno, enquanto o mundo físico, da aparência, está em contínuo estado de mudança [5].
O exemplo do círculo perfeito (uma linha feita de pontos todos perfeitamente equidistantes do centro) é melhor. Não existe círculo perfeito na realidade. Mas a idéia, nós compreendemos (W2012u). A geometria e a matemática não falam do que o mundo é, apenas do que seria se, porque, por exemplo, falam abstratamente de um triângulo equilátero, mas não existem linhas retas no mundo sensível, só no intelecto; assim, o entendimento é inferior à razão, pois lida apenas com hipóteses que não pode provar [8].
Hierarquia das idéias: no topo a idéia do bem, da qual participam as demais. Depois as idéias de beleza, verdade e simetria e, em plano inferior, os valores éticos e os conceitos matemáticos. Além disso, cada classe de ser existente no mundo sensível possui sua forma ideal. Os objetos sensíveis são cópias ou imitações da idéia perfeita.
Religião, Teologia. A Alma é anterior ao corpo, e antes de aprisionar-se nele, pertenceu ao mundo das idéias. Sua natureza é tripartida: no nível inferior, está a alma sensível, morada dos desejos e das paixões, à qual corresponde a virtude da moderação ou temperança; vem em seguida a alma irascível, que impele à ação e ao valor; sobre elas está a alma racional, que pertence à ordem inteligível e permite ao homem recordar sua existência anterior (teoria da reminiscência) e aceder ao mundo das idéias, mediante o cultivo da filosofia. A alma superior é imortal e retornará à esfera das idéias após a Morte do corpo. Tais faculdades ou capacidades da alma se relacionam harmoniosamente por meio da virtude mais importante— o sentimento de justiça — e constituem aspectos de uma única e mesma realidade.
Anima mundi. Princípio do cosmos e fonte de todas as almas individuais, é um conceito cosmológico de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria.
[Cosmogonias], [Demiurgo]: a causa do universo, de acordo com a exigência de que tudo que sofre transformação ou geração (genesis) sofre-a em virtude de uma causa. Diferente do deus cristão, o demiurgo não cria ex nihilo mas a partir de um estado preexistente de caos, tentando fazer seu produto assemelhar-se ao modelo eterno das Formas, assim a atividade do demiurgo compreende observar as Formas, desejar que tudo seja o melhor ou mais similar possível ao modelo eterno e perfeito. A meta perseguida pelo demiurgo platônico é o bem do universo que ele tenta construir. Este bem é recorrentemente descrito em termos de ordem. Platão descreve o demiurgo como uma figura neutra (não-dualista), indiferente ao bem ou ao mal.
O mal não é algo em si mesmo, é somente a ausência do bem (Górgias). O bem ou o Uno são a fonte suprema da razão, do conhecimento e da existência [3].
Amor. Eros é o impulso da alma em direção ao bem. Em sua forma inferior, expressa-se na paixão pela beleza e em nosso desejo de imortalidade construindo uma prole. Uma forma superior de amor contempla a união dedicada a anseios mais espirituais, proporcionando o bem social. A forma mais elevada de amor platônico é consagrada à filosofia, e seu ápice é o alcance de uma visão mística da idéia de Bem [5].
Filosofia política. Não é possível ser justo na cidade injusta e a realização da filosofia implica não só a educação do homem, mas a reforma da sociedade e do estado. A justiça consiste na relação harmônica entre as partes, sob o cuidado da razão [1]. Para alguns, quando ^ fala de justiça está com frequência falando apenas de algo semelhante a ordem [5]. A República: Utopia. Enquanto a ideia moderna é a da política como administração ou gestão dos conflitos na cidade, a premissa de ^ era a da política como meio para eliminar o conflito na cidade [7].
Metafilosofia. O sentido da filosofia — o amor da sabedoria — é o de conduzir o homem do mundo das aparências ao mundo da realidade, ou da contemplação das sombras à visão das idéias, imutáveis e eternas, iluminadas pela idéia suprema do bem.
Arte. V. tópico sobre ^ em Lobo, R. H.. Os filósofos e a arte.
Citações:
“A filosofia começa com a perplexidade” (Teeteto, 155d).
“assim, como o olho é incapaz de voltar-se das trevas para a luz sem ser acompanhado do corpo inteiro; também a faculdade de conhecer só pode apartar-se do mundo das coisas contingentes por meio de um movimento da alma inteira, até que esteja em condições de enfrentar a contemplação do ser, inclusive da parte mais brilhante do ser, que é o que chamamos a idéia do Bem” (A República, Livro VII, 18b-c).
“Deus está inocente nisso” (A República, Livro X, 617e).
“Não é permitido irritarmo-nos com a verdade”.
“A filosofia começa com a perplexidade” (Teeteto, 155d).
“assim, como o olho é incapaz de voltar-se das trevas para a luz sem ser acompanhado do corpo inteiro; também a faculdade de conhecer só pode apartar-se do mundo das coisas contingentes por meio de um movimento da alma inteira, até que esteja em condições de enfrentar a contemplação do ser, inclusive da parte mais brilhante do ser, que é o que chamamos a idéia do Bem” (A República, Livro VII, 18b-c).
“Deus está inocente nisso” (A República, Livro X, 617e).
“Não é permitido irritarmo-nos com a verdade”.
Notas e adendos:
[1] f. pr.: G99e.
[2] B2011f 132.
[3] B2011f 72.
[4] S1997a.
[5] S1996p.
[6] W2012u.
[7] P2010h.
[8] R1957h.
[9] M2014i.
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