Sófocles
Os atenienses veneravam Ésquilo e compreendiam apenas em parte EurÃpides; mas amavam Sófocles apaixonadamente. Desde sua primeira vitória, aos 28 anos, foi festejado e homenageado como o maior dos poetas trágicos. De acordo com a tradição biográfica, participou ativamente da vida pública de Atenas.
Biografia. Nasceu perto de Atenas, em Colono, por volta de -496; era de famÃlia abastada, mas não aristocrática; o pai chamava-se Sófilos. Viveu sempre em Atenas e lá morreu, nonagenário, em -406/-405.
Era bem apessoado e afável; consta que foi amigo de Péricles e de Heródoto e que Ãofon, seu filho, e Ãriston, seu neto, foram tragediógrafos de renome. Diz-se que, meses antes de sua morte, ao saber que EurÃpides morrera, vestiu o coro de preto e, em lágrimas, deu ao público a notÃcia.
Segundo a tradição, liderou o coro de jovens que celebrou a vitória de Salamina e, graças ao seu prestÃgio, foi tesoureiro da Liga de Delos em -443, estrátego em -441 (ao lado de Péricles) e por volta de -428 (na época de NÃcias). Em -413, após o desastre da SicÃlia, foi um dos dez próbulos que governaram provisoriamente a cidade. Segundo a tradição, era devoto de Asclépio e, enquanto o asclepieion de Atenas era construÃdo, a estátua do deus ficou acomodada em sua casa. Em agradecimento pelo serviço prestado à divindade, Sófocles foi honrado como um herói após a sua morte.
Estreou em -468 nas DionÃsias Urbanas com a tragédia Triptólemo; embora concorresse com o próprio Ésquilo, recebeu o primeiro prêmio. Venceu os concursos 18 ou 24 vezes, e nunca obteve menos que o segundo lugar. Os testemunhos antigos atribuem-lhe cerca de 120 tragédias e dramas satÃricos, dos quais cerca de 18 eram tetralogias, um hino a Apolo e alguns poemas. Somente sete tragédias, no entanto, chegaram até nós na Ãntegra.
Obras sobreviventes. Das tragédias sobreviventes, apenas o Filoctetes pôde ser datado com precisão. Note-se que Édipo Tirano é mais conhecida pela tradução incorreta, Édipo Rei, e que Édipo em Colono foi encenada e apresentada por por Ãriston, neto de Sófocles, anos depois da morte do poeta. De um drama satÃrico intitulado Os Cães de Caça, de data incerta, temos cerca de 400 versos.
Os enredos de todas as tragédias provêm da mitologia grega; o drama satÃrico Cães de Caça, do qual dispomos de vários versos, foi inspirado em um antigo hino a Apolo tradicionalmente atribuÃdo a Homero.
CaracterÃsticas da obra. Sófocles aumentou ainda mais os diálogos dos personagens e reduziu as falas do coro, embora tenha elevado o número de seus componentes. Acrescentou um terceiro ator para conferir maior dinamismo à s cenas, recurso utilizado posteriormente por Ésquilo na Orestéia. Em sua época as tetralogias não eram mais compostas de tragédias interligadas, e os enredos tornaram-se mais complexos. Alguns eruditos sustentam mesmo que, com Sófocles, a tragédia grega atingiu a perfeição.
A poesia de Sófocles é simples e elegante, nobre mas sem pompa; algumas das mais belas linhas da poesia grega são de sua autoria. O personagem sofocliano é um ser humano ideal, dotado dos mais elevados atributos humanos. Seu caráter, habilmente delineado pelo poeta, frequentemente contrasta com o de outros personagens. O comportamento às vezes muda, e até traços de caráter se alteram diante das reviravoltas da fortuna.
Os deuses aparecem em segundo plano, são constamente citados mas raramente intervêm em pessoa; praticamente toda a ação se desenvolve no plano humano. Como se costuma dizer, ao teocentrismo de Ésquilo opunha-se o antropocentrismo de Sófocles.
Arrogância, orgulho desmedido e pecado levam ao desastre, e a moderação é sempre apresentada como o melhor caminho. O sofrimento trágico é inevitável diante dos atos cometidos, e mesmo os descendentes sofrem, mas esses atos são cometidos livremente pelos personagens.
Manuscritos e edições. As fontes mais importantes das tragédias de Sófocles são os manuscritos Mediceus (Laurentianus xxxii 9) da Biblioteca Laurenciana de Florença, datado mais ou menos do ano 1000, e o Parisinus 2712 (séc. XIII), da Biblioteca Nacional de Paris.
A edição princeps é a Aldina (Veneza, 1502), logo seguida das de Stephanus (Paris, 1568) e Canter (Antuérpia, 1579), o primeiro a organizar os cantos corais em estrofe e antÃstrofe; mas a primeira edição moderna do texto grego, com tradução latina e escólios, é de Brunck (Estrasburgo, 1786/1789).
Posteriormente, as mais importantes edições coletivas das sete tragédias sobreviventes foram as de Musgrave (Oxford, 1800/1801), Erfurdt e Herrmann (Leipzig, 21823/1925), Elmsley (Oxford, 1826), Dindorf (Oxford, 1832/1836), Wunder (London, 1855) e Jebb (Cambridge, 1881/1896). Atualmente, as edições mais cômodas e mais usadas são a de Dain e Mazon (Paris, 1958/1960) e a de Lloyd-Jones e Wilson (Oxford, 1990).
Em português, as tragédias já foram todas traduzidas, isoladamente; não dispomos, porém, de edição coletiva com a tradução de todas as peças.
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