Modernidade lÃquida
- â€Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possÃveis são muitos.†(Pessoa, LDD, Trecho 148)
â€A falta de um centro, a relativização de tudo (inclusive da própria noção de centro), o mundo todo reduzido a fragmentos que não fazem um verdadeiro todo†(Richard Zenith, prefácio ao LDD).
CaracterÃstica ou descrição da situação da pós-modernidade. Seus sintomas:
a) Inexistente uma adesão completa e inquestionável a um único sistema [1] [2].
A relativização, a dúvida e a contextualidade freqüentemente levam o indivÃduo a tomar consciência de que suas ‘verdades’ são verdades apenas para si (...) instaurando, no centro da subjetividade, a dúvida e a pluralidade de opções.
b) Como analisa Santos (1996), Desde a Grécia Antiga, as filosofias são discursos globais, totalizantes, que procuram os primeiros princÃpios e os fins últimos para explicar ordenadamente o Universo, a Natureza, o Homem. A pós-modernidade é a valsa do adeus ou declÃnio das grandes filosofias explicativas, dos grandes textos esperançosos, como o Cristianismo (e sua fé na salvação), o Iluminismo (com sua crença na tecnologia e no progresso), o Marxismo (com sua aposta numa sociedade comunista) [3]. Um sujeito pós-moderno pode ser ao mesmo tempo programador, andrógino, zen-budista, vegetariano, integracionista, antinuclearista. São participações brandas, frouxas, sem estilo militante, com metas em curto prazo e onde há expressão pessoal. Renuncia-se a temas grandiosos como revolução, Democracia Plena, Ordem Social – coisas da modernidade industrial (p. 23).
c) Esmaecimento das certezas coletivas que, no passado, ao mesmo tempo em que serviam, não raro, para oprimir e cercear, conferiam, também segurança e estabilidade para a existência, o indivÃduo passa a arriscar-se num ambiente de opções incessantes e de valores de cunho individualista
As práticas sociais passam a ser constantemente examinadas e reformadas à luz das informações fornecidas pelos ‘especialistas’ (...) ao invés de conferirem ao indivÃduo a segurança de um mundo lógico e racional, como ‘prometiam’ os filósofos Iluministas, instauram a dúvida e a pluralidade de opções, sempre potencialmente renováveis
A contemporaneidade solapou as certezas do conhecimento, instaurando o princÃpio metodológico da dúvida a contemporaneidade substituiu a autoridade da religião e das obrigações tradicionais pela autoridade dos especialistas e da ciência. Esta é sempre provisória, na medida em que as ‘verdades’ da ciência, além de permanecerem sempre ‘até segunda ordem’, divergem entre si, o que faz com que os indivÃduos sejam obrigados a escolher entre uma multiplicidade de posturas teóricas que disputam entre si a hegemonia
d) O indivÃduo se torna cada vez mais liberado dos laços comunitários que, anteriormente, ajudavam-no a definir seu modo de ser e estar no mundo, necessitando agora construir suas próprias narrativas biográficas
Notas e adendos:
[1] f. pr.: Nunes, 2006.
[2] Um lampejo: modernidade é descrença.
[3] Nesse sentido, Metanarrativa e Lyotard. E também 'Minima moralia', de Adorno, 1951: a noção de totalidade foi no passado parte de uma ~f libertária, mas no presente foi absorvida num sistema social totalizante, que é real ou potencialmente autoritário. Contra isso devemos, em vez de buscar conhecimento, enfatizar o paradoxo e a ambiguidade. Temporariamente, pelo menos, a verdade precisa repousar na experiência individual.
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