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Filosofia da ciência. O ponto de chegada da ciência é o ponto de partida da filosofia, que é crítica dos postulados das ciências particulares, porque é vivência, cosmovisão e busca das causas últimas; a filosofia é um saber unificado, e a ciência um saber parcialmente unificado [1].

Ensinava Durant:
    “Ciência é descrição analítica; filosofia é interpretação sintética. A ciência quer decompor o todo em partes, ... o obscuro em conhecido. Ela não procura conhecer os valores e as possibilidades ideais das coisas, nem o seu significado total e final: concentra-se em mostrar a sua realidade e sua operação atuais ... Mas o filósofo não se contenta em descrever o fato; quer averiguar a relação do fato com a experiência em geral e, com isso, chegar ao seu significado e seu valor; ... tenta montar, de maneira melhor do que antes, esse grande relógio que é o universo e que o cientista perquiridor desmontou analiticamente. A ciência nos ensina a curar e a matar; reduz a taxa de mortalidade no varejo e depois nos mata por atacado na guerra; mas só a Sabedoria -- o desejo coordenado à luz de toda a experiência - pode nos dizer quando curar e quando matar. Observar processos e construir meios é ciência; criticar e coordenar fins é filosofia; e porque nossos meios e instrumentos se multiplicaram além da nossa interpretação e da nossa síntese de ideais e fins, nossa vida está cheia de som e fúria, não significando coisa alguma. Porque um fato nada é exceto em relação ao [Desejo]; não é completo, exceto em relação a um propósito e a um todo. Ciência sem filosofia, fatos sem perspectiva e avaliação não podem nos salvar da devastação e do desespero. A ciência nos dá o conhecimento, mas só a filosofia pode nos dar a sabedoria” [2].
Talvez essa visão, datada da primeira metade do Séc. XX, da ~f como saber totalizador que dá o significado total e final do que todas as ciências sabem, não caiba mais nos tempos modernos, onde a ciência é tão extensa, ramificada e complexa que nenhum filósofo é capaz de realizar essa totalização, como disse Hawking [3]. Por outra, a característica da pós-modernidade é desconfiar de qualquer explicação singular, abrangente, que tente resumir a totalidade da história humana, ou busque incluir todo o conhecimento em um único sistema [4]. Ainda assim, a explicação de Durant é válida na parte em que realça a função da ~f de definir valores e propósitos para o conjunto dos achados da ciência. Ao menos nos termos em que é entendida hoje, a ~f analisa e critica o mundo a partir do ponto de vista da existência humana, para a qual procura, ou propõe, um sentido. Cabe à ~f, e não à ciência, investigar, para cada fenômeno, fato ou descoberta científica, seu enquadramento nas categorias do bom, do bem, do belo e do justo, e suas repercussões no significado da existência humana. A ~f não concorre com a história, a física, a biologia, a economia, nem compartilha com elas objetivos, objetos ou método; mas enfoca os mesmos objetos, e também os resultados dos trabalhos das ciências, perguntando qual o significado deles para o homem.


Notas e adendos:

[1] C967n.

[2] D1926h 22.

[3] Numa palestra em 2014, vide aqui (l. ext.).

[4] V. Lyotard e Modernidade líquida.