Ética e Wittgenstein
- f. de l. do artigo “O caleidoscópio de Ludwig Wittgensteinâ€, de MaurÃcio Silva Alves, in: FCV, ano 10, nº 127, p.5. Temas: Análise linguÃstica, Ética
as duas fases de Wittgenstein
Na 1ª fase, Wittgenstein está influenciado por Bertrand Russell; obra: Tratactus logico-philosophicus: linguagem é espelho do mundo, apenas reproduz os objetos que estão no mundo; adquire sua força na análise lógica. A verdade do mundo real está associada à verdade da proposição.Na 2ª fase (obra “Investigações filosóficasâ€), a linguagem não é o objeto e sim a atividade que determina, de certo modo, a realidade. A linguagem deixa de ser espelho, que apenas reproduz os objetos que estão no mundo, e ganha conotação de atividade, que adquire força no uso social, no cotidiano.
A análise da linguagem não é a de um discurso solipsista, é mas algo que ocorre intersubjetivamente. Representar a linguagem significa representar uma forma de vida, uma atividade.
Deleuze: filosofar é produzir Conceitos.
Ética em Wittgenstein
A questão da ética está, em Wittgenstein, conectada à da linguagem.Quanto à ética, trata-se de objeto cujo significado é universal (o que nos caracteriza como indivÃduos). A ética é a investigação daquilo que é bom, porém “é claro que a ética não pode ser verbalizada. A ética é transcendentalâ€, ou seja, está “para além do discursoâ€, não é capturável em proposições e convenções.
“Sentimos que, mesmo quando todas as possÃveis questões cientÃficas fossem respondidas, nossos problemas vitais não teriam sido tocados. Sem dúvida, não cabe mais pergunta alguma, e esta é precisamente a resposta†(Tratactus, § 6.52).
m.c.: Talvez W. queira dizer que os verdadeiros problemas vitais não são “cientÃficos†na medida em que não podem ser descritos (nem na forma de resposta, nem na de pergunta) nos limites da linguagem. São problemas cuja enunciação e resolução não se dá no âmbito da lógica e da linguagem, pertence à dimensão mÃstica e ao silêncio, onde “se deve calarâ€. Mas isso possivelmente é contradito pelo final da citação, que diz: “observa-se a solução dos problemas da vida no desaparecimento desses problemasâ€.
Quanto à frase “daquilo que não se pode falar, deve-se calarâ€, tem relação com a questão da ética. Wittgenstein nos convida ao silêncio. A linguagem é uma estrutura isomórfica do mundo. O silêncio é a dimensão mÃstica, vem da distinção entre dizer e mostrar. A linguagem oferece a ponte entre a lógica e a ética. A linguagem é uma essência de tudo que se encontra no mundo (â€aquilo que se pode dizerâ€). A ética é condição essecial, e sobre ela deve-se calar, ela se mostra no silêncio.
m.c.: a ética diz respeito à queles problemas vitais (e respectivas soluções) que, por não pertencer ao domÃnio da lógica, do objetivável (das coisas do mundo, no sentido do Tratactus), pertence, por exclusão, à dimensão mÃstica, daquilo que “não pode ser ditoâ€, apenas mostrado.
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