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Ésquilo


index do verbete Ésquilo (gr. Αἰσχύλος) é o mais antigo dos poetas trágicos cuja obra chegou até nossos dias. Aristóteles sustentava que foi ele o verdadeiro criador da tragédia ática e, para os atenienses, era uma verdadeira instituição. Embora somente tragédias inéditas fossem habitualmente admitidas nos festivais de Atenas, depois da morte de Ésquilo suas obras eram frequentemente reapresentadas — às custas da cidade — e chegaram a ser premiadas várias vezes nos concursos...

Biografia

As mais importantes fontes de informações sobre a vida de Ésquilo são a Vita anônima, conservada em diversos manuscritos, o verbete da Suda[1] e algumas datas anotadas no Marmor Parium (FGrH 239).

Sabe-se de certo apenas que nasceu em -525 em Elêusis, perto de Atenas, e que morreu em -456 na Sicília, em Gela. Era provavelmente de família aristocrática e seu pai chamava-se Eufórion. Segundo a tradição, lutou contra os persas em Maratona (-490) e em Salamina (-480).

Apresentou-se pela primeira vez nos concursos trágicos de Atenas em -500/-499 com um drama cujo nome hoje desconhecemos; obteve a primeira vitória em -484 e foi, posteriormente, vitorioso mais doze vezes.

Já em vida seu prestígio era grande. A tradição registra pelo menos duas e talvez três viagens à Sicília, sede de algumas das mais poderosas póleis da época, para apresentar suas peças: a primeira em -476/-475, a segunda provavelmente entre -471 e -456 e, com certeza, lá estava ele em -456, quando morreu. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação e, em meados do século -IV, uma estátua sua foi colocada no centro do teatro de Dioniso, em Atenas.

Os testemunhos antigos atribuem-lhe cerca de 90 obras, entre tragédias e dramas satíricos. Também compôs, aparentemente, elegias, peãs e epigramas.

Obras sobreviventes

De toda sua obra somente sete tragédias sobreviveram, graças a uma antologia compilada na época do Imperador Adriano (76/138): Persas (-472), Sete Contra Tebas (-467), Suplicantes (c. -463), Prometeu Acorrentado (-462/-459), Agamêmnon (-458), Coéforas (-458), Eumênides (-458).

Dessas sete tragédias, somente duas não podem ser datadas com precisão: As Suplicantes e Prometeu Acorrentado. As tragédias Agamêmnon, Coéforas e Eumênides formam uma trilogia conhecida por Orestéia e foram, obviamente, apresentadas no mesmo concurso trágico. Alguns eruditos relutam em atribuir o Prometeu Acorrentado a Ésquilo, e outros acreditam que a peça foi composta vários anos depois de sua morte, entre -450 e -425.

Com exceção de Os Persas, drama histórico que enaltece a vitória dos gregos nas guerras greco-pérsicas, o enredo de todas as outras tragédias se fundamenta nos grandes ciclos legendários da mitologia grega.

Características da obra

Καὶ τό τε τῶν ὑποκριτῶν πλῆθος ἐξ ἑνὸς εἰς δύο πρῶτος Αἰσχύλος ἤγαγε καὶ τὰ τοῦ χοροῦ ἠλάττωσε καὶ τὸν λόγον πρωταγωνιστεῖν παρεσκεύασεν·
Aristóteles, Po. 1449a.15
Ésquilo reduziu a primitiva importância do coro e acrescentou um segundo ator, tornando possível o diálogo entre os personagens e a ação dramática. É provável que tenha também introduzido aperfeiçoamentos no vestuário e nos cenários, a julgar pela dificuldade técnica de algumas de suas encenações.

Os temas de suas peças frequentemente se distribuíam em trilogias (a Oréstia é a única que chegou completa até nós). O enredo é simples, a ação, estática, o estilo, elevado e grandioso, às vezes bombástico e um pouco pomposo.

As peças mostram também o profundo sentimento religioso do poeta. Os personagens principais são sombrios e dominados por uma única meta (como a vingança, por exemplo), e suas características não variam ao longo do drama. As ações humanas têm consequências inevitáveis, pois sempre são guiadas pela fatalidade, pelo destino, ou pela vontade dos deuses.

É visível a intenção moral dos dramas. Orgulho e atitudes desmesuradas são punidas, e o castigo inevitável pode estender-se inclusive aos descendentes.

Em As Rãs, comédia representada em -405, Aristófanes compara Ésquilo e Eurípides, com vantagem para o primeiro. Apesar do tom jocoso, várias características da obra esquiliana são reconhecidas e mencionadas. É um raro testemunho da impressão que o poeta causou naqueles que viveram (quase) em sua época.

Publicações

A primeira edição das tragédias de Ésquilo, baseada nos antigos papiros da biblioteca de Alexandria, parece ter sido a de Aristófanes de Bizâncio (c. -257/-180). Dídimo Calcentero preparou uma edição comentada em algum momento da segunda metade do século -I, e esses comentários são a fonte de vários escólios[2]. A maior parte dos papiros com fragmentos das tragédias completas e com trechos de algumas tragédias fragmentárias data dos primeiros séculos da Era Cristã. Em Roma, durante a época de Adriano (117/138), foram publicadas várias selectas com duas ou três tragédias, que logo suplantaram em popularidade a edição das obras completas.

No século IV ou V, provavelmente, as edições completas não eram mais encontradas, e apenas as tragédias das Selectas haviam sobrevivido. Durante o Período Bizantino, três tragédias tornaram-se as favoritas: Prometeu, Sete Contra Tebas e Os Persas (a “tríade bizantina”). Uma das selectas com sete tragédias, copiada em pergaminho e guardada em alguma biblioteca, sobreviveu e se tornou o principal arquétipo do texto que conhecemos. O mais antigo dos manuscritos conhecidos de Ésquilo, o Mediceus (Laurentianus xxxii 9), data do fim do século IX e contém as sete tragédias completas, com algumas lacunas. Outros manuscritos mais recentes, especialmente os que contêm a tríade bizantina, parecem derivar de um arquétipo diferente do arquétipo do Mediceus.

A editio princeps de Ésquilo foi preparada por Franciscus Asulanus, a partir do Mediceus, e editada em Veneza por Aldus Manutius em 1518; parte da tragédia Agamêmnon, no entanto, não foi publicada. As principais edições antigas com todas as obras são as de Stanley (Londres, 1663), Dindorf (Leipzig, 1827), Scholefield (Cambridge, 1830) e Hermann (Leipzig, 1852); dentre as modernas, as de Wilamowits (Berlim, 1914), Mazon (Paris, 1921), Herbert W. Smith (Cambridge, 1926), Untersteiner (Milão, 1946), Murray (Oxford, 21955) e Werner (Munique, 1959) são as principais.

Todas as edições de peças fragmentárias (v.g. Nauck, Leipzig, 21889; Cantarella, Nápoles, 1948; Lloyd-Jones, Londres, 1957) foram suplantadas pela publicação do vol. 3 dos Tragicorum Graecorum Fragmenta (TrGF), editados por Stefan Radt, em 1985.

Não há, ainda, em português, uma coletânea com a tradução de todas as tragédias de Ésquilo.

Notas

A Suda (também chamada de Suídas) é um léxico ou, mais exatamente, uma espécie de enciclopédia compilada no século X por eruditos bizantinos. Seus 30.000 verbetes abordam diversos aspectos da cultura grega (biografia, história, literatura, língua, religião, costumes, etc.) mas nem todas as suas informações, notadamente as biográficas, são confiáveis.
Escólios são breves anotações nas margens de manuscritos gregos e latinos que comentam e esclarecem certas passagens do texto. Seus autores, habitualmente desconhecidos, são chamados de “escoliastas”. É possível que os primeiros escoliastas tenham sido Aristóteles e seus discípulos, mas a atividade parece ter se desenvolvido sistematicamente só mais tarde, com as atividades filológicas e literárias dos eruditos ligados à Biblioteca de Alexandria (Aristófanes de Bizâncio, Aristarco, Calístrato e outros). Essas antigas “notas de rodapé” são sempre referidas em relação ao autor e ao texto que comentam. Sch. Ar. Ra. 67, por exemplo, significa “escólio / escoliasta de As Rãs de Aristófanes, verso 67".